22 de jun. de 2010

"Sem querer”, músico piauiense desconhecido vira notícia em site nacional

Músico piauiense é chamado para participar de trilha sonora em seriado inglês

     
     Já ouviu falar em Odorico Leal? Nem nós do THE Music, até os “twitteiros” piauienses repassarem através da rede social um link de uma matéria do site da revista Época no “boca-a-boca”, ou melhor, “retwitter - a - retwitter”. Acompanhada de um “Confesso que nunca tinha ouvido falar”, o link redirecionava para uma mini-biografia do músico natural de Picos “Dodô”, da jornalista Lívia Deodato  para a seção “Mente Aberta” do portal.


     O que chamou a atenção para o piauiense para ele ter virado notícia nacional? Odorico Leal foi “descoberto” por um produtor musical inglês via myspace. Segundo o site da Época, Kyle Lynd, responsável por um seriado chamado Skins, (exibido em canal fechado no Brasil com o nome “Juventude a flor da pele”), contratou o músico depois de convidá-lo a participar da trilha sonora do programa, que foi feito com o objetivo de lançar novos artistas e bandas.

     A entrevista enfatiza que Odorico não encara a música como prioridade apesar disso. O motivo de ele ter ido há dois meses para a cidade de São Paulo foi principalmente pelos estudos.

     Músico influenciado por Beatles e Roling Stones, preferindo cantar em inglês um som que lembra Radiohead e morando fora do estado. O THEmusic foi perguntar então ao jornalista cultural Pedro Jansen, natural de Teresina e também residente em Sampa, se o “Do Piauí, pra inglês Ouvir” seria também “O Piauí, pra inglês ouvir”. Como um bom jornalista, ele questionou mais que respondeu.

THEmusic:  Você considera que os artistas que nasceram no Piauí, mas fazem sucesso mais em outros lugares que entre os conterrâneos, podem ser considerados representantes da música piauiense?

Pedro Jansen: Antes eu queria te fazer umas perguntas: o que é música piauiense? O que a configura, o que a caracteriza? Edvaldo Nascimento é música piauiense? O Trinco é música piauiense? Dark Season é música piauiense?

Agora, invertendo a pergunta: um japonês que vem para o Brasil e aprende a tocar samba, toca música japonesa ou samba? O que identifica a música ou o artista é o lugar geográfico que ele ocupa? Ou o modo como ele se expressa através daquele meio?



THEmusic: Classificar uma música como piauiense seria mais uma questão de território, ou de identidade cultural?

Pedro Jansen: Certa vez, entrevistando o Ostiga Jr, perguntei pra ele sobre um tipo de "cheiro" que a música piauiense tem, uma coisa que a torna una, concisa. Ele concordou, falando que existe mesmo essa coisa que permeia toda a produção local [não necessariamente feita por locais, como o Roraima, por exemplo]. Mas, vá lá, se você pega Narguilê Hidromecanico, Teófilo, Mano Crispim e Gramophone, você encontra similaridades nas expressões usadas nas músicas, no sotaque, mas Narguilê é quase experimental/mangue beat, Teófilo é rock entremeado de regionalidade, a Mano Crispim é/era O Rappa do Piauí e Gramophone, uma mescla de Autoramas com The Hellacopters, Los Hermanos... Entende o que eu quero dizer? A unidade da música piauiense, esse ritmo que não ganhou apelido como o mangue beat, é algo que existe mas não se vê, porque tudo se mistura. O professor Gustavo Said (professor de Comunicação da UFPI especializado em cultura) me disse lá na aula de Teoria I, que a expressão "povo brasileiro" não existe, ela é uma síntese de algo que não se pode tocar, já que o gaúcho e o nordestino dividem o amor pela bandeira, mas um come churrasco e o outro, mão de vaca e por ai vai. Mas que essa impossibilidade de se falar em povo brasileiro como algo uniforme, igual, um pirão de características que gera um Brasileiro, te dá a oportunidade de ser qualquer coisa. É a mesma coisa com a música piauiense, que não "existe".

Texto: Ludmila Nascimento
Imagens: Divulgação 
Odorico Leal: portal da Época
Pedro Jansen: portal 180 graus

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